29.11.09

Morcego

A medonha pele dele
estirada para uns homens de negócio
é semelhante à minha, aqui no meio dos meus dedos,
um tipo de enredo, um tipo de rã.
É certo: desde as entranhas, minha face foi esta, miudinha
e antes mesmo de nascer, eu poderia voar, é certo.
Não tão bem, mentirinha, eu tinha só um véu de pele,
dos meus braços ao corpete-cintura.
E voei à noite, também. Para não ser vista,
pois se me vissem, me atirariam abaixo.
Talvez em agosto, como árvores que evolam (em corolas) às estrelas,
eu flutuasse de folha em folha, na espessura do escuro.
E se você me houvesse fisgado com seu facho de luz,
veria um corpo rosa e morto, com asas,
fora, fora, desde o ventre da mãe, coberto de pelos
e áspero, a deslizar sobre as casas, forças armadas.
Eis por que os cães da sua casa me farejam.
Eles sabem que sou algo a ser pego
em algum lugar do cemitério, de cabeça para baixo,
como um seio deformado.

Bat

His awful skin
stretched out by some tradesman
is like my skin, here between my fingers,
a kind of webbing, a kind of frog.
Surely when first born my face was this tiny
and before I was born surely I could fly.
Not well, mind you, only a veil of skin
from my arms to my waist.
I flew at night, too. Not to be seen
for if I were I'd be taken down.
In August perhaps as the trees rose to the stars
I have flown from leaf to leaf in the thick dark.
If you had caught me with your flashlight you
would have seen a pink corpse with wings,
out, out, from her mother's belly, all furry
and hoarse skimming over the houses, the armies.
That's why the dogs of your house sniff me.
They know I'm something to be caught
somewhere in the cemetery hanging upside down
like a misshapen udder.

Anne Sexton